Nesse Conto de Terror, conheceremos um relato de João Santos da Silva, uma pessoa misteriosa que escreve esse registro em um diário para tentar organizar os eventos estranhos de sua vida.

Autor : Paulo Henrique – 30/10/2021.

Me chamo João Santos da Silva, um nome bem português apesar de eu desconhecer qualquer ascendência portuguesa na família. Escrevo esse registro em um diário para tentar organizar os eventos estranhos que se seguiram à minha primeira viagem ao Maranhão, berço das duas famílias de meus pais.

Tendo vivido minha infância e adolescência em Manaus, capital do Amazonas, confesso que perdi um pouco das minhas raízes com a “mãe-áfrica”. Meus pais nunca insistiram, mas sempre me disseram que ao fim da faculdade, eu precisava ir até o nosso pequeno vilarejo no interior do Maranhão, nas proximidades do município de Arari, que fica há uns 250 km da capital. Sempre pensei que fosse algo apenas para conhecer uns primos distantes ou pra minha mãe se exibir que o filho estava no último período “daquela-faculdade-lá-que-mexe-com-computador” (mais conhecido como ciência da computação). Eu estava errado. Muito errado. Mas chegaremos lá.

Anari, município brasileiro do estado do Maranhão – wikimedia

No dia 26 de outubro, saímos do Aeroporto Eduardo Gomes e num voo direto à capital maranhense. Uma viagem tranquila e uma cidade com uma atmosfera agradável. Bastante úmida, mas não tão diferente do que eu já estava acostumado. Devo ressaltar aqui que desde a nossa chegada, o humor de meus pais não era mais o mesmo, um misto de irritação ou impaciência. Ignorei pelo tempo que foi possível, mas quando finalmente questionei meu pai, ele disse:

“Você saberá logo, logo”

“Logo, logo” – pensei em voz alta, um jeito bem amazonense de se dizer “muito em breve”

Dormimos uma noite em São Luís e depois alugamos um carro até Arari. De lá, conhecemos algumas pessoas de uma hospedagem local, não me recordo agora o nome, mas me lembro de serem pessoas simpáticas e ter bolo de graça e chá… chá de alguma coisa… Aqui, as coisas ficam um pouco mais confusas.

Imagem ilustrativa – Wikimedia commons

Por volta de 23h, meu pai me acordou e fez sinal para que eu ficasse em silêncio. Deixamos a hospedagem e caminhamos por 5 minutos… não, mais de 1 h, com certeza… até chegar às margens de uma trilha que dava para a mata. Estava mais frio do que o esperado para o clima amazônico.

“Tire os seus sapatos, onde vamos andar agora é território sagrado” – disse meu pai.

“Território sagrado?” – Essa foi a primeira vez em todos os meus 22 anos que eu ouço qualquer coisa religiosa vir do homem que me gerou. Obedeci sem aguardar a resposta.

A memória agora me vem como pequenos “flashes”. Me lembro de caminhar por muito tempo em uma trilha praticamente inexistente dentro da mata fechada. Meu pai me ofereceu um gole de alguma bebida que ele levava numa garrafa… tinha gosto de chá, não consigo identificar muito bem.

Após um tempo, nos encontramos com um senhor, bem velho, um homem do campo bastante desgastado pelo sol. Ele estava sério e carregava alguns poucos adereços ao redor do pescoço.

“Filho da morte?” – O velho disse

“Sim” – meu pai respondeu

“Trouxe o seu moleque?”

“Sim”’

“Sangue do teu sangue?”

“Sim”

Pela primeira vez, o velho se dirigiu a mim:

“Tem coisas no mundo que ‘tu’ ainda não entende, mas vai entender. Tem coisas no mundo que ‘tu’ não vai compreender, mas precisa.”

Então acendeu um cachimbo e por bastante tempo, a luz emitida pela tragada foi a única coisa que nos iluminava. E então, fumaça.

Não lembro como, mas alguns adereços já estavam em mim e não tenho certeza se estávamos no mesmo lugar da floresta, mas, com certeza, não tínhamos começado a conversa perto de um rio.

O velho continuou, em tom grave:

“Sua família é filha da morte. Um mal necessário para a sobrevivência do nosso povo. Seu pai vê a morte, como você também verá. Aquele ponto no escuro, aquele frio na espinha, o vulto do canto do olho. Todos percebemos. Vocês não percebem, vocês olham pra ela. Agora que você sabe dela, ela também sabe de você. Aprenda a encarar, mas não por muito tempo.”

Acordei na minha cama, na hospedagem. Foi um dia estranho. Durante todo o café da manhã não nos falamos e no fim do dia, voltamos à São Luís e depois, à Manaus.

Não sei como voltei ao meu quarto. Não sei exatamente o que foi essa experiência. Todos os dias minha memória esquece um pouco do que aconteceu. Eu não quero esquecer! Eu não posso esquecer! Meus pais voltaram a agir normalmente depois de uns 3 ou 4 dias e isso está me enlouquecendo.

Conto de Terror, pessoa sendo observada
Imagem ilustrativa – Wikimedia Commons

À noite, quando eu apago as luzes, algo está me olhando. Algo não! Ela… uma figura sem rosto, sem forma. Ela não tem nome, não fala. Ela só olha… Ela espera eu dormir, para me olhar bem de pertinho.

Foi ela quem me pediu para escrever. Agora você sabe dela. E ela sabe de você.

 

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4 respostas para “Conto de Terror | Sangue do teu Sangue”

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  3. Avatar de Paulo Henrique
    Paulo Henrique

    Com certeza André! Já existem alguns contos saindo do “forno”!

  4. Avatar de André Oliveira
    André Oliveira

    Acabei de ler o conto! Muito bom! Vocês irão publicar mais?